Vários mundos

Talvez eu demore demais para entender, mas continuo tentando
Meu pai sempre diz que vivo em outro mundo. Antes isso me deixava muito feliz, mas agora confesso que me preocupa um bocado. Ele diz isso, porque o ciclo de amizades na Universidade, no Centro de Línguas e lá em Brasília é bem diferente do que ele está acostumado onde moramos.
Minha mãe também diz sobre os mundos da gente serem diferentes. Ela afirma com honestidade que as ideias que proponho não cabe na realidade dela. Sugeri outro dia para minha mãe aprender uma nova língua, porque dona Lili estava maratonando séries coreanas. Ela me olhou desconfiada como se naquele momento eu estivesse brincando (estava falando sério). Então entendi que ela não conseguia se ver falando outro idioma e me reconheci nela. Há vários momentos do dia que penso: não deveria estar aqui, acho isso grande demais para mim.
Meus pais sempre falam desses mundos diferentes que vivemos. Lá no início, afirmei que fiquei feliz com isso, porque pensava ser um elogio. Depois de um tempo, percebi que eles me explicavam querendo me mostrar um afastamento. Quando senti isso, me vi triste. E até constrangida. Por que eu estava criando abismos ao invés de pontes? Foi quando vi uma aula de Fundamentos do Desenvolvimento e Aprendizado e compreendi (um pouco melhor) o quanto, na verdade, meu mundo e dos meus pais não estão tão longes assim. O Valter Hugo Mãe diz que depois de entendermos melhor, a beleza comparece. Talvez eu demore demais para entender, mas continuo tentando. Quem sabe assim o mundo de todo mundo, com e graças às diferenças, fiquem mais próximos.
O Manoel de Barros também diz que o quintal dele é maior que o mundo. Não sei se era, mas foi a forma que ele viu. Quem sabe se eu escolher olhar assim para os lugares que estou consigo preencher com palavras os abismos entre mundos, pois não quero ser de outro lugar sozinha. Desejo meus pais, meus amigos e quem escolher usar a palavra como forma de sentir a vida por lá também (entenda pela palavra “lá” esse “outro mundo”) (como diz uma amiga, mesmo que nossos mundos sejam bem diferentes, construiremos pontes elásticas para continuar unidas)
Abraço da Rê
Obrigada por ler.