Resenha: Os Quatro Amores, C.S Lewis

Renata Ferreira das Neves
4 min readJan 6, 2021

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"Em cada um dos meus amigos há algo que somente outro amigo pode revelar. Sozinho, não sou grande o suficiente para externar em atividade o que sou por dentro."

Às vezes, enquanto estou tomando café da manhã, (provavelmente assim como você) paro e fico parada olhando por muito tempo algum lugar. Por fora, estou tentando me concentrar na xícara de café e aproveitar aqueles segundos do dia. Por dentro, estou em alguma questão que provavelmente não faça ideia da resposta. Em um desses momentos, me perguntei: o que é o amor?

Então, surgiu o primeiro encontro do ano com a obra que se chama justamente, Os Quatro Amores do brilhante autor C.S Lewis. A minha pergunta (e de muitas pessoas também) se estendeu, pois não era apenas o que é o amor, mas o que são os amores? Uma vez escutei em um vídeo que existem perguntas que podemos até beirar uma possível resposta, mas no momento que alguém pergunta, já não sabemos o que falar e acredito ser assim com o amor. Por isso, peguei na mão de Lewis através do que ele escreveu e corri para ler o que aquele que me encantou sobre Nárnia compreende também do(s) amor(es).

Para começar, o escritor diferencia o amor-dádiva e o amor-necessidade. O primeiro é explicado através do exemplo de pais que trabalham anos e muitas vezes pensam mais nos filhos do que neles próprios. Esse é um tipo de amor que me constrange muito! Aquele constrangimento de sentir a entrega do outro e perceber “pontas” em nós que podem ser melhoradas pelo reconhecimento de gestos como manifestações desse amor. Por outro lado, o amor-necessidade está relacionado ao fato que:

“Precisamos dos outros, físico, emocional e intelectualmente; precisamos dos outros se queremos saber qualquer coisa, até de nós mesmos”. (p. 12)

A partir da diferenciação desses dois tipos de amores temos, então, o desdobramento dos quatro amores que são bem explicados ao longo da obra: a afeição, a amizade, o eros e a caridade. Vale ressaltar que os conceitos durante o livro estão intimamente ligados à fé do autor, por isso ele adentra temas bastante profundos e sensíveis dentro (também) do cristianismo. Nesse sentido, como leitora que compartilha da mesma fé que o autor, senti certos desconfortos ao sair daquilo que comumente pensava compreender e busquei reorganizar os pensamentos após a leitura. Agora estou a descobrir no que transformarei essas novas perspectivas. Espero que em algo belo!

Então, detalhando um pouco mais sobre cada um dos amores, a afeição é explicada como “O mais humilde e mais amplamente difuso dos amores” (p. 51). No ambiente familiar, por exemplo, a familiaridade que podemos desenvolver com os demais, caracteriza esse amor sem relacioná-lo ao merecimento. Sendo assim, é um amor da convivência que, apesar de todas as diferenças, concebe a vivência com o outro no cotidiano estabelecendo intimidade.

Seguramente, chegamos ao amor no qual enxergo uma beleza especial: a amizade. Neste capítulo, o companheirismo entre Tolkien e Lewis pode ser percebido nas entrelinhas. Quando o autor afirma que a amizade verdadeira é o menos ciumento dos amores e cita Dante: “Aí vem aquele que vai aumentar nossos amores” o leitor pode lembrar com carinho de cada uma de suas amizades e/ou questiona-se: será? O capítulo torna-se, então, uma aventura que mostra como a amizade foi vista em certos momentos históricos e o porquê é defendida pelo autor como um dos quatro amores.

Na sequência, resumidamente, o Eros é o estado de apaixonar-se ou o estado de estar amando. Lewis detalha as especificidades nesse tipo de relação e convida o leitor a repensar o que comumente entendemos sobre a dinâmica desse vínculo. A caridade, por sua vez, é o amor que eleva todos os outros e não é um amor-necessidade. Conforme explica o autor, a caridade nos aproxima do próximo e reafirma a vulnerabilidade de amar:

“O simples fato de se amar é uma vulnerabilidade. Ame alguma coisa e seu coração ficará certamente apertado e possivelmente partido” (p. 163)

Para finalizar e te trazendo um pouco “para dentro” do meu curso, na matéria de Introdução à Linguística, fui apresentada ao conceito de signo do linguista Saussure. Uma parte essencial do conceito é que o signo é formado por significado e significante. O significante, de maneira bem resumida, é essa imagem do som que temos: AMOR. Já o significado é o conceito da palavra. Com a xícara de café quase esfriando, me peguei pensando: quantos significados tem o significante AMOR? Pois Lewis ainda pontua a diferença do verbo gostar e amar em algumas línguas. É, talvez quando “eu crescer” saiba te falar melhor. Por enquanto, estou tentando entender os quatros amores que Lewis explica tão bem! E você? O que pensa sobre o amor?

Obrigada por (me) ler!

Editora do livro: Thomas Nelson Brasil.

Número de páginas: 187

Nota: 4/5

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Renata Ferreira das Neves
Renata Ferreira das Neves

Written by Renata Ferreira das Neves

Estudante de Letras Língua Portuguesa- UNB. Linha de pesquisa : Literatura e outras Artes. Áreas de atuação de trabalho: aula particular, preparação e revisão.

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