Resenha do conto Querido monstro, de Valter Hugo Mãe

Porque nenhuma tristeza define obrigatoriamente o que podemos fazer no dia seguinte. No dia seguinte, ainda que guardemos a memória de cada dificuldade, podemos sempre optar por regressar à busca das ideias felizes.
Existem escritores que de tão íntimos com as palavras, acabam por se tornarem amigos delas. E, tendo essa amizade com a escrita, podem criar vínculos com os leitores… sem nem ao menos conhecê-los. O Valter Hugo Mãe tem sido esse escritor para mim, durante o dia, em meio a correria do semestre, volto em seus contos e fortaleço a esperança de uma vida mais leve. É quase uma tentativa de pedir abraços acalentadores a um amigo (obrigada, Valter).
O conto Querido monstro está no livro Contos de cães e maus lobos do autor. É a história de um menino que durante a infância cria dois amigos imaginários: um monstro triste e um lobinho velho. A própria criança é responsável por alimentá-los, mas esses personagens não comem coisas comuns: os alimentos são metáforas. Ao contrário da expectativa do menino-personagem, os amigos imaginários parecem estar desconectados com seu próprio inventor e, consequentemente, a criança continua a se sentir sozinha.
Nessa solidão, nosso garoto pensa em contar o segredo de sua invenção aos pais. Mas, depois de refletir melhor, volta em sua decisão e então resolve alimentar os monstros com poemas de amor. Infelizmente, a tristeza dos amigos imaginários não passa com a recitação dos versos. No entanto, a mensagem presente nos poemas que o menino lia começam a fazer parte de sua realidade e ele enxerga, pela primeira vez, o amor em outra pessoa.
Nesse momento, os monstros vão embora da história. Segundo o próprio garoto, foram morar em “metáforas mais complexas onde haveriam de ficar lambuzados e gulosos para sempre”. Finalmente, quando as criaturinhas partem, o menino acredita que suas criações estavam alegres por ele. A simplicidade desse conto me fez escolhê-lo para essa resenha. Antes de começar a escrever pensei que os leitores do Ponto Literário poderiam sentir-se como crianças repousando na cama antes de dormir. Ou como netos ouvindo histórias da avó. Ou que poderiam ficar bravos por achar essa história muito infantil (espero que não haha).
A realidade é que Valter me surpreende com um conto tão sensível, pois aos 20 anos ainda crio monstrinhos na minha mente também. Por isso, senti empatia pelo personagem. Às vezes, alimento os danadinhos da mente com metáforas, onomatopéias, hipérboles ou eufemismos. Outros dias, alimento com amor. Ao menos, tenho tentado alimentá-los assim. Se eles partirem, estarei pelo menos abraçada às palavras e elas me farão descansar em histórias curtas e singelas. Ah! A leitura do conto é bem rápida, mas o que fica é para ser sentido com calma, aos pouquinhos. Quem sabe você lembre de um amigo de infância imaginário. Quem sabe também o conto surja como um descanso em meio a correria. Quem sabe…
Obrigada por ler!
Abraço da Rê
(olha só até rimou)